sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Esperançosas coincidências

Mal começaram os testes da pré-temporada de F1 para 2008 e o clima já vem esquentando nos bastidores da categoria, é um frisson que a muito tempo não se via...
Voltando um pouco no tempo, recordo-me de uma das mais sensacionais temporadas que presenciei na minha vida, a de 1986. Foi um certame mágico porque reunia as peças chaves todas colocadas no seu devido lugar, analisemos juntos:
1- Três equipes muito boas que revezavam as conquistas de acordo com seus pontos fortes e suas deficiências.
2- Quatro dos maiores gênios do automobilsmo correndo juntos e todos com chances de vitórias.
3- Nigel Mansell revelava-se finalmente como um grande piloto depois de anos de aprendizagem.
4- Ayrton Senna despontava como grande líder da associação Lotus-Renault e já cravava seu nome entre os maiorais da época.
5- Nélson Piquet finalmente guiava um carro forte depois de ter penado em duas temporadas com a decadente Brabham de 1984 e 1985.
6- Alain Prost sempre constante à bordo de um Mclaren confiável e rápido na maioria dos circuitos.

Misturadas todas essas peças em seus devidos lugares, o equilíbrio foi tal que nunca sabíamos o que estava por vir, só sabíamos que shows seriam dados. E foram, a temporada foi mágica e seus lances espetaculares. Duelos magistrais foram protagonizados pelos quatro titãs da F1 que estavam todos em seu auge performático. Dentre a infinidade de shows que o certame nos presenteou, destaco dois dos mais lindos:

1- Gp da Espanha - última volta, um Mansell alucinado tenta ultrapassar Senna de todas as maneiras possíveis e imagináveis e entra na última curva colado na traseira do Lotus, pega o vácuo na reta de chegada e finalmente consegue abrir uma manobra concreta de ultrapassagem. Senna acelera tudo o que pode, mas Mansell já coloca sua Williams lado a lado com a Lotus do brasileiro. A linha de chegada se aproxima e os dois protagonistas do espetáculo a cruzam quase juntos - tão juntos que nenhum dos dois pilotos se atrevem a comemorar... Mas eu disse quase juntos, Senna por incríveis 14 MILÉSIMOS vence. Depois diriam que a performance desses dois ases da velocidade foi tão perfeita que a vitória merecia ser repartida ao meio...

2- Gp da Hungria - o circuito magiar sempre foi considerado um dos mais difíceis de se fazer ultrapassagem, perdendo em nível de dificuldade somente para Mônaco. Manobra de ultrapassagem bem sucedida era tarefa para gênios. E não que é foi justamente neste palco de imensas dificuldades que a F1 assistiu a mais linda manobra de ultrapassagem de toda sua história? Reta de chegada de Hungaroring - praticamente único lugar possível de se ultrapassar no circuito -, Nélson Piquet pega o vácuo da Lotus negra de Senna e por dentro o ultrapassa, mas, ao chegar na tomada da primeira curva à direita, a Williams de Piquet dá uma leve escorregada e Senna habilmente "enfia" seu carro na única fresta deixada pela Williams. Piquet, enfurecido, inicia nova manobra de ultrapassagem - uma volta depois da tentativa frustrada - na mesma reta, mas Senna - que de bobo não tem nada - fecha a linha de dentro consciente que nesta pista uma ultrapassagem por fora é impossível. E Piquet sem hesitar "enfia" sua Williams por fora e ultrapassa Senna até chegar na tomada da tal curva... Quando todos pensavam que a Williams do brasileiro rodaria, Piquet, contrariando todas as leis da física, segura seu carro escorregando nas quatro rodas e completa a manobra DE LADO E POR FORA...

Voltando aos tempos atuais, analisemos a situação "desenhada" para 2008, tomando como base coincidências existentes entre o começo do atual certame com o início da temporada de 1986:

1- Fernando Alonso, bicampeão do mundo - como Piquet em 1986 - volta para Renault para alavancar seu projeto rumo às glórias novamente.
2- Kimi Räikkönen, atual campeão mundial e tido como ex-eterno azarão - como Prost em 1986 - dá seqüência a seu trabalho bem sucedido na Ferrari.
3- Lewis Hamilton, estreante vencedor e candidato a estrela - como Senna em 1986 - entra em 2008 como promessa de futuros shows.
4- Felipe Massa, após vários anos de aprendizagem e poucos resultados práticos obtidos - como Mansell em 1986 - precisa mostrar que não passa somente de um piloto muito arrojado, mas muito atrapalhado.

Pois é, meus caros, se as coincidências entre os dois campeonatos não se restringirem ao início da temporada, teremos um campeonato alucinante, repleto de lances memoráveis. É lógico que os atuais protagonistas não se equivalem aos gigantes do passado, mas que a temporada promete...ISSO SIM, ELA PROMETE.