quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Herói Cívico


Para começar este post, que marca meu retorno ao blog após alguns dias de descanso de tudo (inclusive de computadores), gostaria de fazer uma viagem no tempo até a metade dos anos 1980:
O Brasil vivia tempos turbulentos em todos os aspectos que vocês pudessem imaginar, desde a economia até a política. Quem viveu esses tempos sabem muito bem o que estarei relatando a seguir:

- Na economia: Víviamos tempos de inflação galopante, moeda fraca e baixo poder aquisitivo. Quem tinha uma FILMADORA, um MONZA 2.0 na garagem e podia viajar uma vez por ano para o NORDESTE já podia ser considerado classe média alta.

- Na política: Víviamos tempos de transição de ditadura para democracia sonhando com as DIRETAS JÁ. Mas, um golpe duro veio fazer chorar toda uma nação quase que totalmente desesperançada na política, morre a única esperança de "dias melhores": Tancredo Neves (presidente eleito pelo colégio eleitoral) antes de mesmo de assumir o governo. E aí a tragédia estava instalada na pele de José Sarney e seus terríveis Planos CRUZADO.

- Na cultura: Víviamos tempos de crise de identidade cultural com artistas adotando pseudônimos em inglês e modismos de qualidade duvidosa sendo importados dos EUA e da Inglaterra. O "chique" era usar termos como "new wave", sonhar em surfar no "Hawaii" e consumir tudo o que viesse de fora, afinal de contas: ... "o que é bom para os americanos, é bom para os brasileiros...", lembram-se desse absurdo???

- Nos esportes: Víviamos única e exclusivamente das conquistas de Nélson Piquet e de algumas raras vitórias olímpicas, como, por exemplo, a medalha de ouro de Joaquim Cruz. No futebol seria melhor nem falar... Tínhamos a melhor seleção de todos os tempos, recheadas de craques legítimos (e não esses pseudo-craques de atualmente, virtuosos em "firulas" mas que produzem pouco) em duas copas do mundo (1982 e 1986) e... PERDEMOS.

- Nas relações internacionais: Víviamos tempos de tanta falta de prestígio internacional que o homem mais poderoso do mundo veio nos visitar e nos chamou de BOLÍVIA...


Todo esse contexto trouxe um sentimento muito forte de falta de patriotismo, de tanta vergonha de ser brasileiro que a melhor síntese para todo esse estado de anti-brasilidade vem das palavras sarcásticas e inteligentes de Roger do Ultraje a Rigor:

A GENTE NÃO SABEMOS ESCOLHER PRESIDENTE
A GENTE NÃO SABEMOS TOMAR CONTA DA GENTE
A GENTE NÃO SABEMOS NEM ESCOVAR OS DENTE
TEM GRINGO PENSANDO QUE NÓIS É INDIGENTE
INÚTIL
A GENTE SOMOS INÚTIL
A GENTE FAZ CARRO E NÃO SABE GUIAR
A GENTE GENTE FAZ TRILHO E NÃO TEM TREM PRA BOTAR
A GENTE FAZ FILHO E NÃO CONSEGUE CRIAR
A GENTE PEDE GRANA E NÃO CONSEGUE PAGAR
A GENTE FAZ MÚSICA E NÃO CONSEGUE GRAVAR
A GENTE ESCREVE LIVRO E NÃO CONSEGUE PUBLICAR
A GENTE ESCREVE PEÇA E NÃO CONSEGUE ENCENAR
A GENTE JOGA BOLA E NÃO CONSEGUE GANHAR


Pois foi em meio a todo esse turbilhão de acontecimentos contra a brasilidade, que contradiziam com intensidade tudo aquilo que as aulas de MORAL e CÍVICA nos ensinavam a fazer, que surge um grande herói cívico brasileiro. Justamente quando todo mundo tinha vergonha de ADMITIR que era brasileiro, surge um cara que EMPUNHOU a bandeira brasileira diante das câmeras de todo mundo num dos dias mais dolorosos para o povo tupiniquim: Gp de Detroit de 1986, um dia depois da maior geração futebolística pós-Pelé sucumbir definitivamente em copas do mundo (já havia fracassado antes em 1982) fazendo uma nação, já arrasada por todo o conjunto de fatores acima relatados, chorar copiosamente. Eis que justamante nesse dia de finados extemporâneo, surge a figura de um piloto que ao vencer a corrida ergue o mais improvável de todos os estandartes: o pavilhão verde-amarelo. O gesto despertou um estranho eco de esperança rediviva no povo brasileiro tão acostumado com derrotas. E não é que com o passar do tempo o gesto foi repetido várias vezes e, a cada vez que era feito, despertava cada vez mais no brasileiro comum o abafado orgulho de ser brasileiro. E esse sentimento crescia, crescia... até chegar ao ponto de RESGATAR o sentimento de orgulho patriótico.
Os tempos avançaram e o Brasil melhorou, hoje temos uma economia forte, uma democracia estabelecida, cultura própria resgatada, status internacional de país emergente e esporte que vence freqüentemente . Temos muitos motivos de nos orgulhar em empunhar a bandeira brasileira. O que não podemos nos esquecer é de que quem resgatou esse sentimento foi um brasileirão, que Rubens "Brasileirinho" Barrichello me perdoe a alfinetada, chamado SILVA. Quando me perguntam quem foi e quão grande foi AYRTON SENNA respondo com todo orgulho:

AYRTON SENNA DA SILVA FOI UM DOS MAIORES HERÓIS CÍVICOS DA HISTÓRIA DO BRASIL, digno de figurar em livros de história com tanto louvor quanto TIRADENTES.

VIVA SENNA , UM LEGÍTIMO HERÓI BRASILEIRO!!!