sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Os pontos negativos da Fórmula 1 atual



Mark Webber, escudeiro-mor da atual modorrenta e enfadonha Fórmula 1 aposenta seus préstimos neste final de semana em Interlagos e deu a seguinte declaração sobre a chata categoria:

 "Eu não sairia se não houvesse coisas que estou feliz de deixar para trás. Se houvesse mais pontos positivos do que negativos, então obviamente eu ficaria. Há mais pontos negativos do que positivos".


Confesso que esta foi a única notícia que me chamou a atenção sobre Fórmula 1 nestes últimos meses. Desde, sei lá, a oitava ou nona corrida não sei dar notícia alguma sobre as corridas, quem ganhou , quem perdeu, quem isso ou quem aquilo... E isso seria impensável para um outrora fã incondicional da categoria. Tão fã que de 1981 a 2012 deixei de assistir apenas o GP do México de 1986  por culpa de um incidente de viagem.
Quais seriam então os motivos para uma mudança tão radical de postura? Aproveito a oportuna declaração de Webber para enumerar através de pontos negativos os motivos:

1 – A Fórmula 1 tornou-se refém de sua estrutura antidesportiva:

A dupla Ferrari-Schumacher institucionalizou na F-1 moderna a obrigatoriedade da hierarquia de pilotos, onde o piloto principal tem total prioridade sob todos os aspectos em uma disputa. Surgiu assim a figura do piloto-escudeiro, que tem basear toda sua estratégia de corrida, desde o início da temporada, visando o benefício do primeiro piloto, que é o único liberado para realmente lutar por vitórias e títulos. Esta situação criou vários episódios grotescos, tais como: o GP da Áustria de 2002, onde Rubens Barrichello foi obrigado a dar passagem para Schumacher e ambos foram vaiados ostensivamente pelo público presente no autódromo; o GP da Alemanha de 2010, onde Felipe Massa recebeu a famosa ordem “Alonso is faster than you” e teve que dar a vitória de bandeja para o espanhol; e, o pior de todos, o GP de Cingapura de 2008, quando Nelsinho Piquet foi forçado a forjar um acidente para que entrasse o safety car beneficiando Fernando Alonso que liderava em um momento de pit stops sucessivos...
A FIA até tentou criar leis que coibissem as famigeradas “ordens de box”, mas diante da total impossibilidade em aplicá-las, pois as equipes facilmente as driblavam, acabou cedendo a dura realidade estrutural da atual F-1: as equipes determinam o resultado final de uma corrida de acordo com seus interesses pessoais.
Quem em sã consciência está disposto a assistir ou até mesmo torcer para um esporte-“marmelada” ???

2 -  Grids esvaziados:

Como é triste ver um grid de F-1 com apenas 18 carros, são muitos pilotos de talento esperando uma vaga na F-1 com tão poucos assentos disponíveis. Alguém poderia argumentar que estou louco por causa do número supracitado, pois a F-1 tem 22 carros, mas, falando sério, a Marussia e a Caterham são carros de F-1 ???
Sou do tempo em que o grid contava com 26 carros, uns 24 de verdade e uns 2 ruins, mas nenhum deles tão ruim que não almejava absolutamente nada como Marussia e Caterham.

3 – Excesso de pilotos pagantes:

A Fórmula 1 sempre foi cara e sempre teve pilotos pagantes, mas não tanto quanto atualmente. A conseqüência disso é que o nível dos pilotos caiu muito, pilotos bons e capazes de gerar espetáculo são preteridos para dar lugar a cabeças de bagre endinheirados e insossos.

4 – Declínio brutal do fator humano na decisão do resultado final:

Já faz algum tempo que os pilotos vem influenciando cada vez menos nos resultados finais das corridas, mas desde 2010 a tecnologia e a aerodinâmica são as chaves principais para a vitória na F-1. A fórmula do sucesso passa primeiro por um grande aerodinamicista, um staff competente de diretores e engenheiros e dinheiro – muito dinheiro – para pagar a constante evolução tecnológica que a categoria prescinde. Piloto ? Basta ter um bom piloto – apenas bom, não sensacional ou espetacular – que seja rápido o suficiente – não meteórico como Senna foi – para fazer pole positions e que erre pouco para administrar bem uma estratégia vencedora. A conseqüência disso é que deixa de existir a figura do ídolo, do herói que as crianças e jovens sonhariam em se tornar e os marmanjos admirariam e torceriam fervorosamente.


Existem mais fatores negativos que poderiam ser enumerados, mas destaco esses 4 supracitados porque a conjunção deles já demonstra o motivo maior de a Fórmula 1 ter deixado de ser assunto em padarias ou botequins, ter perdido o interesse para a esmagadora maioria das pessoas que gostam de esporte. E é com tristeza que concluo que eu, um antigo fã incondicional da categoria (como disse anteriormente), me sinto órfão de um dos maiores prazeres que tinha na vida.

Dizem que ano que vem a coisa muda... mas, não sei se mudaria a ponto de me fazer gostar tanto quanto eu gostava de Fórmula 1 antigamente.